Sentidos voam pelas nuvens em minha mente. Velhos temas se atualizam, velhos medos emergem fantasmagoricamente em novas paisagens. Papéis se confundem em uma espiral descendente em direção a certezas construídas pelo tempo, agora perfuradas, vazadas e vazantes. Sinto o volume das águas que habito subindo e as ondas se formando. Ainda assim, os oceanos se movimentam... e isso ajuda.
O fluxo é complexo: uma série de imagens estão em redemoinho e por vezes são reflexos de espelhos estilhaçados do passado. Os reflexos não são meus, mas já foram parte de mim. Decidir entre uma estrada e outra significa escolher que eu quero encontrar no futuro. A indecisão e a incerteza guiam meus passos rumo a um destino que prefiro escrever a ler. Cada atitude é um rabisco inapagável, um rascunho permanente.
Não revelo minhas inclinações, é a penumbra que cobre meus desejos mais honestos se mostrando novamente. Quero sair dessa metavivência de mim mesmo. Por vezes, nessa estrada neurótica que compõe meus pensamentos, encontro cruzamentos complexos e multidimensionais, mas que em qualquer realidade viraria uma via expressa e reta sem obstruções.
Nunca foi tão difícil distinguir o que quero do que desejo. É estranho. E aí as coisas adquirem valores subjetivados e subjetivantes, intrínsecos a essa experiência de bizarrice. Ninguém nunca disse que a consciência trazia consigo algum tipo de reconforto. Mas, a real escolha jaz entre o peso da consciência e as aparentes indeterminações advindas daquilo que permanece obscuro.
Ainda assim, sinto menos medo ao me deparar com a minha própria Caixa de Pandora, sabendo que a Esperança jaz no fundo, debaixo do mundo de insetos que devoram o vazio deixado pelos bens que escaparam. Isso porque sei que abri-la significa confrontar as sombras que ainda carrego comigo. E, por mais apavorante que sejam, encará-las, no momento, é a única escolha sábia que posso tomar.
Quanto mais fortes os pilares que sustentam nossas emoções, mais complexa se torna a construção de nosso próprio eu. Só erguemos paredes tão altas quanto somos capazes de escalar. Só construímos pontes tão compridas quanto somos capazes de imaginar o que existe na distância. Só sentimos tanto quanto somos capazes de admitir. As conexões que fazemos com o todo são tão mais possíveis quanto desejadas. Só conseguimos, então, nos encontrar com o outro, de verdade, na medida em que já nos deparamos com nosso Narciso.