Sentidos voam pelas nuvens em minha mente. Velhos temas se atualizam, velhos medos emergem fantasmagoricamente em novas paisagens. Papéis se confundem em uma espiral descendente em direção a certezas construídas pelo tempo, agora perfuradas, vazadas e vazantes. Sinto o volume das águas que habito subindo e as ondas se formando. Ainda assim, os oceanos se movimentam... e isso ajuda.
Mantra.
Caminhos que tocam a alma, passam pelos outonos das folhas levadas pelos ventos de meus antepassados.
Desculpas.
Ao mundo, peço desculpas. No momento em que me escrevo, aqui e agora, parece que toda minha vida me trouxe a este momento, a essa conjuntura dos fatos e das condições. Infelizmente, várias feridas tiveram que ser abertas, fechadas e remendadas para que eu pudesse entender. Agora finalmente encontrei o que buscava há anos em terapia: o que me faltava não era conhecimento. Era humildade. Talvez eu consiga me explicar ao longo do texto, talvez não. Mas, como sempre, irei tentar.
Carona.
Ontem, entre o momento em que desci do ônibus em direção à minha casa, presenciei um milagre. Faltavam poucos metros para chegar ao portão. Ainda que poucos, os metros que separam o ponto de ônibus de minha residência sempre tiveram um grande poder para me cansar, mesmo que brevemente. Andava na calçada do lado oposto ao de meu condomínio, pois o trecho entre onde desço e a entrada não possui uma calçada decente e, naquele dia, ser atropelado não estava nos planos.
As manhãs frias de agosto.
Eu quero uma vida que não passe em branco, muito menos em tons de cinza. Quero que as cinzas voem quando meu corpo for retornado à Terra, depois de ser cremado nas chamas de um crematório. Quero que até em meu último ato nesta vida, as coisas sejam permeadas pela cor, pela coloração laranja dos fogos. E que enquanto eu viva, eu arda em pleno inverno e incendeie o chão de minhas amizades. Que elas possuam raízes fundas.